HOJE NO DIVÃ... Artur Caldeira | Professor, Especialista em Música, Guitarrista, Arranjador, Produtor e Diretor Musicais


ARTUR CALDEIRA | Artur Caldeira é natural de Braga, Portugal. Licenciado em Guitarra Clássica e Mestre em Interpretação Artística pela Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto e na classe do Prof. José Pina, iniciou os seus estudos musicais no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, sob a orientação do mesmo Professor. Foi-lhe atribuído recentemente, após provas públicas, o Título De Especialista em Música. É doutorando em Educação Artística na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.

Guitarrista premiado, apresentou-se a solo e com orquestra sob a direcção dos Maestros Meir Minsky, Ferreira Lobo, João Paulo Santos, Marc Tardue e Niel Thompson, gravando para a R.D.P.

Realizou concertos de Música de Câmara com José Pina, Luís Meireles, Jed Barahal, Ensemble Vox Angelis (entre outros), apresentando nos seus programas algumas primeiras audições absolutas.

Fundou o grupo “Som Ibérico”, para o qual escreveu vários arranjos de temas da Música Popular Urbana Portuguesa, participando em importantes festivais de World Music na Península Ibérica e gravando um CD onde assina a produção e a direcção musical.


Participou, como músico convidado, no filme “Fados”, do realizador espanhol Carlos Saura. No âmbito do Fado, trabalhou com alguns dos seus nomes mais conceituados. Produziu o CD “Clarinete em Fado” para António Saiote, sendo igualmente responsável pelos arranjos dos temas gravados.

Em duo com o guitarrista Daniel Paredes, apresenta-se num programa eclético com parte do repertório dedicado à Guitarra Portuguesa.

Abrangendo diversos idiomas musicais, tem-se apresentado em recitais em Portugal Continental, Madeira, Açores, Espanha, França, Itália, Alemanha, Dinamarca, Suíça, Hungria, Marrocos, Moçambique, África do Sul e Turquia.

Professor do Conservatório de Música do Porto desde 1992, lecciona actualmente na ESMAE –P.PORTO.

No Divã...

1. Artur, de que forma faz a Arte parte da sua vida?

A Arte é uma necessidade e todos teríamos a ganhar na vida se assim o considerássemos. A Arte é também uma (senão a) excelente forma de comunicação e das mais duradouras na transmissão do saber. Concretamente, a Música é para mim uma missão. Nunca sequer considerei dedicar a minha vida a outra área.

2. Artur, o que é que gostaria de fazer mas o medo não lhe permite?

Nada. Explicando: se falarmos sobre realizar actividades lúdicas ou de outra natureza, devo dizer que as que eventualmente me causam medo não me atraem, logo não gostaria de as fazer; se nos referirmos a algo dentro da Arte e, porque é a minha área, da Música, a realidade é que nunca tive medo de fazer o que quer que seja e foram inúmeras as experiências.

3. Artur, descreva uma das suas principais inspirações na vida.

Não sou idólatra. Não tenho por isso algo ou alguém que possa destacar nesta matéria. Talvez a minha principal inspiração seja a Natureza e o intrínseco respeito pela mesma. Depois (ou em simultâneo) alguns familiares próximos e amigos pela forma coerente e frontal com que regem (ou regeram - porque já partiram) a sua conduta, bem como alguns (muito raros) professores que perceberam em mim alguma capacidade para o que me propunha realizar, que me admitiram alguma desobediência face ao curricularmente formatado, que me incentivaram a prosseguir. Pontualmente, existem referências na guitarra clássica como os guitarristas Andrés Segóvia, Julian Bream, Leo Brouwer, Roland Dyens e Dusan Bogdanovic, na música improvisada John Scofield, Lee Ritenour, Sylvain Luc, Richard Galliano ou Renaud Garcia Fons… Actualmente, a maior inspiração para a minha vida é, sem qualquer dúvida, o meu filho.



4. Artur, que obra de arte escolheria para se representar a si mesmo? Porquê?


É-me muito difícil seleccionar uma… Considero-me bastante eclético e por isso teria de encontrar representações diversas para os vários idiomas que me habitam. Talvez o Concierto de Aranjuez, do espanhol Joaquin Rodrigo possa agregar alguns... O primeiro e o terceiro andamentos realizam uma extraordinária osmose entre música erudita (na forma “concerto”) e música popular espanhola (mais próxima do flamenco); o segundo é a representação do Homem – a Guitarra -  em diálogo com Deus – a Orquestra - (como Ser Supremo, seja este considerado do ponto de vista religioso ou simplesmente como a Natureza), testemunhando a nossa pequenez e fragilidade individual face a uma entidade cuja dimensão nos ultrapassa inequivocamente.

5. Artur, que experiência de vida recorda com maior gratidão? 

Incontestavelmente o nascimento do meu filho!

6. Artur, que significa para si a intimidade?

Em primeiro lugar eu comigo próprio. Não com qualquer absurda conotação narcísica mas porque é importante agir de acordo connosco, com a nossa consciência. Hoje somos todos demasiado manipulados e acabamos por agir de acordo com demasiadas condicionantes externas. É na intimidade connosco que podemos meditar mais e melhor sobre o que é realmente importante. Depois a partilha; quando conseguimos partilhar intimidades com outros(as) significa que já temos alguma capacidade e liberdade para nos expormos. Construímo-nos assim de nós para nós e depois para e com os outros.

7. Artur, o que é que o faz chorar? 


Bom… Depende qual o choro… Confesso que não me lembro de chorar de alegria… Aliás, aquelas choradeiras pregadas abusivamente televisionadas (tipo 'Querido mudei a casa' ou vitórias em 'Voice Portugal' e afins) por toda uma quantidade de estações decadentes provocam-me alergia. Com estes absurdos apetecer-me-ia chorar de raiva…ou de desgosto, talvez… Todavia seria uma perda de tempo… Chorei quando perdi a minha Mãe… E noutras situações idênticas, mas sempre na minha intimidade. De qualquer forma, poderia fazer-me chorar o cinismo político mundial, a hipocrisia governativa de quem faz de conta que procura a democracia e a igualdade social, a cegueira da larguíssima maioria dos cidadãos, a “feira popular” em que a minha cidade está a ser transformada…

8. Artur, qual a sua maior realização pessoal até à data? 

Realiza-me ter sido Pai, realiza-me ter contribuído (e ainda contribuir) para a educação de alguns sobrinhos e concomitantemente para a sua orientação de vida, realiza-me poder, após várias décadas, continuar a fazer Música e transmiti-la a quem visita as minhas aulas… Houve momentos marcantes? Sim, claro: ter vencido (e ser o único guitarrista, após mais de vinte anos, com o primeiro lugar) o Prémio Helena de Sá e Costa (onde concorrem praticantes de todos os instrumentos) e ter-me apresentado como solista com a Orquestra do Porto (actual Orquestra Sinfónica Casa da Música); ter tocado em duo com o Professor José Pina, meu Professor de Guitarra durante mais de dez anos; partilhar o palco com o eminente clarinetista António Saiote; ver crescer um jovem talento chamado Daniel Paredes (guitarrista), contribuir para a sua formação e partilhar com ele tantas aventuras musicais...

9. Artur, como seria uma versão mais perfeita de si próprio?

Não seria… Pretendo continuar imperfeito. A perfeição não existe. Em Arte aquela procura-se mas nunca se encontra. Aliás e como também afirma Marina Abramovic, no que faço importa-me mais o processo, não propriamente o resultado. O poeta António Machado também escreveu Caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Nesta perspectiva, nunca haverá aquela versão de mim. Talvez valha a pena referir que seguir neste caminho evolutivo contínuo vai sendo algo penoso. Sobretudo porque vamos reencontrando algumas pessoas que, entretanto, estagnaram (por dificuldades várias, talvez, mas muitas por puro comodismo). Nestes momentos e porque já não nos agrada o que agradava há 10 ou 20 anos, somos apelidados de esquisitos E porque passamos a exigir mais rigor, mais qualidade, mais coerência, mais seriedade e frontalidade no que se faz, vamos colecionando inimigos… A minha cidade é nisto fértil…

10. Artur, complete a frase: «Tudo seria diferente se…»

“…nós quiséssemos.” Evidentemente poderia completar a frase com muitas outras expressões… Esta parece-me, porém, a que mais vale a pena.
 
11. Artur, que obra de Arte mais influenciou a sua vida? De que forma?

Tal como já disse antes, é muito difícil para mim recorrer a um exemplo demonstrativo do que quer que seja… Talvez volte a mencionar o Concierto de Aranjuez pelas mesmas razões de antes.

12. Artur, como gostaria de ser recordado?

Gostaria sobretudo que o meu filho me recordasse com um bom Pai e um bom amigo. Depois, que quem se desse a esse trabalho se recordasse de mim como alguém que escolheu a Música como a missão da sua vida, sempre procurando fazê-la com entrega total e da forma mais honesta, transparente e coerente possível.


A sessão termina por hoje. 
Muito obrigado pelas suas partilhas, Artur.

Para mais informações sobre o autor e suas obras, por favor consulte:


Professor de Guitarra
DEPARTAMENTO DE MÚSICA / CURSO DE INSTRUMENTO
ESMAE. POLITÉCNICO DO PORTO
Rua da Alegria, 503 | 450-045 Porto, Portugal 
Tlm.: (+351) 225 193 760 
E-mail: esmae@esmae.ipp.pt
Site: www.esmae.ipp.pt


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