HOJE NO DIVÃ... Vítor Dias | Designer de Moda [Edição de Outubro]
VÍTOR DIAS | Nascido em Guimarães, foi muito cedo que Vítor Dias descobriu o gosto pelo mundo da criação. O fascínio por materiais, tecidos e objetos naturais, levaram-no a afinar o rumo. Estreou-se no mundo da moda como manequim, com apenas 14 anos de idade; sem nunca descurar qualquer tipo de área criativa, rapidamente se decidiu acerca da sua carreira profissional: formar-se como Designer de Moda. Especializando-se na área através da Escola Profissional Cenatex, o seu trabalho começou a destacar-se quando, no segundo ano de curso, apresentou propostas ao concurso internacional de moda Encaixe de Camariñas, em Espanha, onde ficou como um dos 26 selecionados a nível mundial. O gosto cresceu, constantemente relançado pela vontade de fazer mais e melhor. Ganhou o Primeiro Prémio num concurso de Intercâmbio na Polónia, ART CONNECTING US, tendo a sua proposta sido escolhida de entre as dos vários outros alunos para constituir o logótipo representativo do projeto da União Europeia. Participou em concursos de renome nacional (e.g., um dos dez premiados no Concurso Jovens Criadores Portuguese Fashion News, em 2013; e finalista do Nespresso Designers Contest, em 2013), onde recebeu menções honrosas e boas críticas, levando a que mais tarde fosse representante de Portugal num concurso internacional em Itália (Ricione Moda Itália) com a colecção «Fantasmagoric», a que ainda hoje é convidado e onde é visto como referência. O gosto persistente pelo trabalho manual levou-o a estagiar numa das melhores casas de alta-costura em Sevilha, Manolo Giraldo, onde foi aperfeiçoando os seus conhecimentos em alta-costura. A ciência, o oculto e as dinâmicas societais servem de inspiração para as suas criações; de entre estas, são as últimas que mais se visibilizam: não só como meio de consciencialização acerca de conceitos e novas ideias junto do público, mas também como forma de protesto face a problemáticas sociais. Atualmente, é conhecido pelo seu craft manual, e pelas peças requintadas, onde se harmonizam o estilo clássico e o desportivo.
No Divã…
1: Vítor, de que forma faz a arte parte da sua vida?
A arte à qual estou interligado está presente no quotidiano de toda a gente. Embora esta não seja percebida como arte, o vestuário, está para além do que é percetível e palpável. É um tipo de arte que exige uma pesquisa muito aprofundada, seja de tendências seja de temáticas que se queiram explorar. Fascina-me na minha arte o facto de qualquer tema, seja ele um simples objeto ou até mesmo um protesto social, poderem ser trabalhados e explorados até ao ponto em que a arte se torna vestível e pode ser usada por qualquer pessoa.
2: Vítor, o que gostaria de fazer mas o medo não lho permite?
Gostaria muito de poder ter o meu próprio espaço de criação onde a minha criação fluísse de forma livre, sem ter no consumismo um entrave a qualquer peça ou obra de arte criada. Aqui surge o medo. Como pessoa independente que me considero, o facto de não ter a certeza da obtenção de resultados positivos assusta-me. Isto faz com que a minha verdadeira arte fique resguardada no meu interior, até que sinta que realmente é necessário e possível expelir todas as ideias para o exterior, para apreciação alheia.
3: Vítor, descreva uma das suas principais inspirações na vida.
Lady Gaga. É, sem sombra de dúvidas, a minha grande inspiração. A sua força de vontade e persistência para atingir os seus próprios objetivos faz com que eu continue a alimentar a esperança de que realmente vale a pena o esforço, o trabalho e os caminhos necessários para atingir a plenitude do que realmente me faz feliz – sentir que sou valorizado pela pessoa que sou, que gostam de mim sem máscaras. Ser eu próprio.
4: Vítor, que obra de arte escolheria para se representar a si mesmo? Porquê?
«O Grito» de Edward Munch é, na minha perspectiva, uma obra absolutamente impactante. Identifico-me muito com ela uma vez que com a minha arte gosto de criar impacto, ou até um certo «desconforto». As minhas inspirações assentam sobre assuntos sociais recorrentes que me causam uma certa revolta. Temas como o preconceito, racismo e bullying mexem muito comigo, por ter passado por algumas situações do género durante toda a minha adolescência. Com isto, a minha verdadeira arte serve, não só como artigo de beleza, mas também como protesto social. Daí esta obra ser importante, por criar diferentes sensações no apreciador da mesma.
5: Vítor, que experiência de vida recorda com maior gratidão?
A possibilidade de ingressar no curso de moda. Tinha dúvidas quanto à minha área académica. O receio de preconceitos sociais fez-me questionar-me se deveria seguir arquitetura ao invés de moda. Entrei em fase de negação até que decidi o que realmente queria fazer. Foi aqui que todas as minhas dúvidas existenciais se perderam, descobri o meu caminho, o qual já sabia ser certo, mas que por receio de julgamentos sempre tentei negar.
6: Vítor, o que significa para si a intimidade?
O que prontamente me ocorre é falar de relações interpessoais. Aqui, considero que a intimidade seja não apenas algo de cariz sexual, mas toda uma cumplicidade entre duas pessoas, o respeito, a compreensão, o carinho e o amor. Como artista, a maior intimidade que pode existir surge quando a nossa obra consegue de alguma forma a reação de quem a vê. Seja uma reação boa ou não, quando alguém reage à minha criação é visto por mim como sinónimo de que algo mais íntimo veio ao de cima.
7: Vítor, o que é que o faz chorar?
Não sou pessoa de chorar. Poderia até dar uma boa inspiração para uma próxima coleção. Choro quando sei que alguém muito próximo está em sofrimento. Ou quando eu próprio estou a sofrer de alguma forma, e faz-me sofrer a maldade alheia, o facto de não poder fazer o que realmente gosto.
8: Vítor, qual é a sua maior realização pessoal até à data?
A minha maior realização é a primeira apresentação de uma coleção em Itália. Foi o culminar de muito trabalho e o sentimento de que realmente a minha arte foi percebida e valorizada.
9: Vítor, como seria uma versão mais perfeita de si próprio?
Mudaria algumas situações do meu passado. Presente e futuro, vivo sem expectativas. Temos de aprender a respeitar e a gostar de nós próprios. Foi com muito custo que aprendi e continuo a aprender isto. Hoje, não mudaria nada em mim, sinto-me bem.
10: Vítor, complete a frase «tudo seria diferente se…
… tudo fosse igual!
11: Vítor, que obra de arte mais influenciou a sua vida? De que forma?
Alexander McQueen, com a sua coleção em 1999. O público esperava ver mais um desfile de moda, que na realidade foi uma performance. Uma mulher com um vestido branco em cima de uma plataforma giratória que durante segundos é pintada por robôs. Foi quando o vi que pensei: «Afinal a moda também é arte!»
12: Vítor, por último, como gostaria de ser recordado?
Para além de um bom profissional, gostaria de ser recordado como alguém que de alguma forma contribuiu para as artes e cultura. Gostaria de ver o meu trabalho reconhecido, não só por criar peças de vestuário «apetecíveis» mas também por terem uma mensagem e um fundamento.
A sessão termina por hoje.
Muito obrigado pelas suas partilhas, Vítor.
Para mais informações sobre o criador:
+ @vitordiasbrand
+ www.vitordiasbrand.pt
+ geral@vitordiasbrand
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