HOJE NO DIVÃ... Estela Cosme | Investigadora e Blogger [Edição de Novembro]
ESTELA COSME | Nasceu em Caracas, Venezuela em 1993 e desde cedo demonstrou interesse pelas línguas, sobretudo o Inglês. Mudou-se para Braga aos nove anos, onde seguiu o seu interesse pelas Humanidades. Licenciou-se pela Universidade do Minho em Línguas e Literaturas Europeias na variante de Inglês e Espanhol, focando-se nas literaturas e culturas. Continuou os seus estudos no Mestrado de Língua, Literatura e Cultura Inglesas, desta vez concentrando-se nos estudos do teatro da língua anglófona, nomeadamente no teatro musical.
Desde há larga data lhe surgiu o interesse pelo género teatral, cativada sobretudo pelo facto de ser uma forma incrivelmente versátil não só de teatro mas de storytelling. Dado a rica história do teatro musical, questionava-se como ela se inseria nos movimentos culturais de cada época e de como contribuía para eles. A sua tese de investigação, "Putting it Together: Postmodernism and the Musics of Stephen Sondheim", trata de identificar a presença do movimento pós-moderno nos musicais norte-americanos, especificamente os de autoria de Stephen Sondheim. Como compositor e letrista, Sondheim tem um lugar de destaque não só no teatro musical do século XX como também no teatro americano, trazendo prestígio e notoriedade a um género dramático por vezes descartado como superficial ou de pouco importância. Tal como foi evidenciado na dissertação, os musicais de Sondheim não só provam que o género é afetado pelas mudanças culturais como também demonstra que os próprios musicais fazem contribuições importantes para os movimentos artísticos e a cultural em geral. A tese é das poucas no país a abordar o teatro musical e é a primeira que analisa a obra de Sondheim.
Dada o seu contínuo interesse no assunto não só do teatro musical mas também do seu equivalente cinematográfico, criou um site dedicado ao musical intitulado PortaldoMusical.com. O projeto tem como objetivo divulgar não só conteúdo original relacionado com o assunto, mas também divulgar os acontecimentos do género tanto em Portugal como no resto do mundo. Embora tenha como língua principal o português, a página está também disponível em inglês e espanhol. É também o primeiro site português dedicado exclusivamente ao musical. Estela Cosme planeia agora expandi-lo, tornando-o não só numa fonte de informação mas também um lugar onde se demonstre a relevância do musical na cultural global.
No Divã…
1: Estela, de que forma faz a Arte
parte da sua vida?
A
Arte é imprescindível para mim e faz parte do meu dia-a-dia. Logo de manhã começo
com uma chávena de café e com a minha dose de música, ambos fundamentais para
iniciar bem o dia. A Arte faz parte também do meu percurso profissional e
académico pois sou formada na área das literaturas e culturas inglesa e
norte-americana devido ao facto de eu achá-las fundamental à nossa vida. Estudá-las
ao longo de vários anos faz-me ainda aprecia-las mais, mesmo apesar do seu
estudo ser bastante desafiante. Mas tem sido um dos melhores desafios da minha
vida. Sem Arte no que é que eu pensava o dia todo? Teria então que criá-la. Devido a este gosto, decidi então criar um site, o PortaldoMusical.com, onde pudesse explorar o tema do teatro musical e do filme musical, e de como eles podem ser uma forma de Arte. Tenho assim a oportunidade de escrever sobre um assunto que me apaixona e que sei que apaixona outros. A Arte é isso mesmo, é aquilo que nos aproxima e que tenta entender como nos relacionamos uns com os outros. E agora que me dedico ao site, a Arte não tem outra escolha senão ser uma parte importante da minha vida.
Em: www.portaldomusical.com |
2: Estela, o que gostaria de
fazer mas o medo não lhe permite?
Tenho
medo de confrontos, não gosto de discutir com as pessoas ou de qualquer sinal
de altercação. Também tenho medo de estacionar entre veículos de forma paralela.
3: Estela, descreva uma das suas
principais inspirações na vida.
Sei
que é lamechas e muito batido mas a música. Ela consegue ser tão variada e tão
infinita que realmente me inspira a pensar que qualquer coisa é capaz de acontecer.
Basta ouvir um bom ritmo ou uma bela melodia e a minha mente imagina mil e um
cenários diferentes. Junta-se-lhe uma boa letra a acompanhar e o nosso sentido
auditivo guia-nos a pensar em possibilidades ilimitadas. A música é magia e a
magia inspira-me.
4: Estela, que obra de arte
escolheria para se representar a si mesma? Por quê?
"Cape Cod Morning" de Edward Hopper. Na pintura uma mulher olha de
frente ao sol nascente através de uma janela. Acho que simboliza olhar de
frente aos desafios à nossa frente e os que estão para vir, sejam eles uma bela
tarde soalheira ou um pôr-de-sol menos caloroso. A mulher também sabe que
amanhã o sol nascerá outra vez mas prefere vê-lo hoje. Tal como ela, gosto de
apreciar as coisas no aqui e no agora pois amanhã não sabemos se estaremos cá
para ver o sol. Talvez tenha que apelidar esta pintura de "Cape Cod
Diem".
'Cape Cod Morning' de Edward Hopper (1950) |
5: Estela, que experiência de
vida recorda com maior gratidão?
Mudar-me
para Portugal abriu-me portas que nunca pensei ver abertas. Trouxe-me uma
perspectiva de vida completamente nova e única pois não só me mudou a vida e o
lugar como também o filtro pelo que vejo as coisas. Tal como a mulher no quadro
de Hopper olhar pela janela, eu também vivo sempre com algo à minha frente a
filtrar o que vejo. E tal como ela ainda não arranjei cortinas.
6: Estela, o que significa para
si a intimidade?
A
intimidade é o silêncio. E mais não digo senão quebro a intimidade contigo, leitor.
7: Estela, o que é que a faz
chorar?
Não
sou de muito choro embora sinta as emoções de forma intensa. Interiorizo as coisas
mas não as exteriorizo com frequência, por isso para chorar tem que ser uma
história muito comovedora e que mexa comigo. Ou então é uma situação que me tem
verdadeiramente frustrada ou triste. Ou então é porque a minha mãe decidiu
fazer a sua incrível lasanha para o almoço.
8: Estela, qual é a sua maior
realização pessoal até à data?
Integrar-me
mas ao mesmo tempo destacar-me no meu país de acolhimento. É importante para
mim saber que consegui adaptar-me ao novo país mas é também que não perdi a
minha individualidade. Aliás, acho que nós as venezuelanas em Portugal com um
mestrado em Inglês e com uma obsessão por comida italiana devemos ser poucas.
Já falei aqui de comida italiana, não já?
Cena da produção original de 'Sunday in the Park with George', de Stephen Sondheim e James Lapine, para a Broadway |
9: Estela, como seria uma versão
mais perfeita de si própria?
Teria
mais seis horas no dia para poder pensar nesta pergunta e encontrar uma resposta
definitiva. E para dormir a sesta.
10: Estela, complete a frase:
«Tudo seria diferente se...
Não
se tivesse assinado o Tratado de Tordesilhas.
11: Estela, que obra de Arte
mais influenciou a sua vida? De que forma?
Sem dúvida o musical Sunday in the Park with George
de Stephen Sondheim e James Lapine. É uma história tão simples mas com tanta substância que
sempre que o oiço ou vejo encontro novos detalhes, novos significados e até
novas emoções. Para mim é a coroa do teatro musical e na minha vida leva o
prémio de melhor peça. Mexeu tanto comigo que decidi criar uma tese de
investigação à sua volta e, mesmo depois de passar meses a analisá-lo, ainda
sigo em busca de explicar a sua essência e do que o torna tão especial. Talvez
nunca me canse de estudá-lo. Nem de chorar (interna e externamente!) com o
final do primeiro e segundo ato. No final do musical há uma frase:
"How George looks... he can look forever...".
Estou destinada a
ser como o George, na vida e na arte, a olhar para sempre. Que sorte a minha!
12: Estela, por último, como
gostaria de ser recordada?
Como
alguém que viveu com paixão e que trouxe paixão aos outros. E que ainda se
lembra do Tratado de Tordesilhas.
A
sessão termina por hoje.
Muito
obrigado pelas suas partilhas, Estela.
Para
mais informações sobre a autora:
+ www.portaldomusical.com
+ estelacosme@portaldomusical.com
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